10 de mar. de 2012

Homenagens a vítimas envolvem nordeste japonês no aniversário do tsunami




As homenagens a vítimas se multiplicaram nesta sexta-feira na cidade de Ishinomaki, no nordeste do Japão, a dois dias do primeiro aniversário do tsunami que arrasou a área. Saikoji era nesta sexta um dos templos budistas mais movimentados por sua localização no devastado bairro de Kadonowakicho, onde boa parte dos 3.735 mortos e desaparecidos que a catástrofe deixou nesta cidade perderam a vida.

Muitos realizaram no local cerimônias privadas de homenagem aos entes queridos mortos há quase um ano e deixaram oferendas nos túmulos do cemitério vizinho, ainda parcialmente destruído pelo avanço do mar. O monge responsável pelo templo, Shinsho Higuchi, explicou à Agência Efe que diante da iminência do aniversário, o número de ritos budistas que deve celebrar disparou nas últimas três semanas, embora sua meta pessoal seja, além disso, servir de apoio para "curar o coração" dos sobreviventes.

"As pessoas perguntam o que mudou em Ishinomaki em um ano. Nada mudou, a dor é a mesma. Se fala em reconstrução, mas casas e edifícios são reconstruídos. O coração, por outro lado, não se reconstrói facilmente", lembrou o monge a uma das famílias que atendeu nesta sexta-feira.

Uma vez por mês, Higuchi recebe no templo reuniões para mães que perderam seus filhos na tragédia, consciente que desabafar a dor pela morte de um familiar é difícil em uma cidade onde quase todos os moradores sofreram alguma perda. A isto se soma a sensação de solidão de muitos dos milhares de deslocados que viram o vínculo com sua comunidade ser destruído - algo de enorme importância no Japão rural - ao terem sido alojados em imóveis temporários longe de seus vizinhos.

Por essa razão, Higuchi considera necessário criar espaços onde os habitantes do nordeste japonês possam compartilhar essa tristeza que muitos carregaram em silêncio durante quase um ano. A família Watanabe, uma das que realizou uma homenagem a seus mortos hoje, agradeceu o trabalho do monge e reconheceu que, por conta da amplitude da tragédia, é difícil enfrentar a cicatriz emocional que o tsunami lhes deixou.

Além disso, tiveram que dedicar muito tempo para apaziguar a ansiedade que o terremoto e suas réplicas, quase 600 de mais de 5 graus nos últimos 12 meses, provocaram na caçula da família, Kurumi, que em abril completará cinco anos. O impacto da tragédia nas crianças é também uma das principais preocupações da associação Ashinaga, que oferece apoio aos 1.580 menores de idade que perderam seus pais no desastre.

A ONG, com uma longa trajetória em projetos de apoio para órfãos, estabeleceu um mês depois da tragédia um escritório na cidade de Sendai, capital da província de Miyagi, a mais prejudicada pela catástrofe. De lá coordena até hoje atividades para as crianças realizadas por voluntários, todos eles pessoas que também perderam seus pais em sua infância e que receberam ajuda da Ashinaga.

A associação, que também trabalhou com crianças que ficaram órfãs pelo terremoto de Kobe em 1995, considera que podem começar a se comunicar mais facilmente se compartilharem sua experiência com alguém que também a viveu. "A maioria destas crianças ainda não expressou suas emoções, e por isso está muito longe de começar a digerir o episódio", explicou à Efe o diretor do escritório da Ashinaga em Sendai, Yoshiji Hayashida.

Segundo Hayashida, os pequenos foram incapazes de se expressar na escola, onde evitam despertar compaixão em seus colegas, e também em suas casas, visto que muitos foram amparados por parentes e por isso vivem em ambientes onde a dor alheia os impede de falar do que sentem. Mesmo assim, durante as atividades realizadas até o momento em cidades gravemente afetadas pelo tsunami, como Ishinomaki, muitos começaram a se abrir aos demais.

Ciente de que ajudar estas crianças é uma tarefa árdua, a ONG pretende abrir mais cinco escritórios em outras tantas localidades do nordeste do Japão, entre elas Minamisoma, cidade muito próxima à usina nuclear de Fukushima Daiichi e onde o trauma do tsunami se une até hoje ao temor à radioatividade.

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